2 Quartzo

Amigos baleados outros encarcerados
alguns esfaqueados e outros falecidos
uns enlouquecidos e ele ainda gaiato
já estava farto do jogo do gato e do rato
pondera as opções mas não há saídas
todas barricadas, zonas empobrecidas
quer evadir-se dum sitio onde só há reféns
pra tentar evitar o medo de todas as mães:
receber uma chamada a cobrar no destino
em nome dum filho que está num presídio
a sua figura paterna foi o abandono
coração de quartzo, esmagado no torno
alienado vagueia até ficar cansado
ao seu lado na soleira um velho sentado
que lhe diz: meu rapaz, não somos diferentes
nem precisas de falar sei o que tu sentes
homens de carne e osso são personagens
onde caixotes de betão definem paisagens
cicatrizes do passado são tatuagens
estes sonhos lúcidos são só miragens
eu já calcei os teus sapatos portanto ouve
superei os obstáculos, o melhor que soube
o maior estratagema deste sistema
é nunca te dizerem que tu és um poema
é fazerem-te pensar que nada riscas
e a tens a oportunidade e nem arriscas
porque o problema nunca é o problema
é a postura perante o que se t’apresenta
queres sair do bairro, ele está entranhado
impregnado em ti vai para todo lado
vai contigo amigo, aceita e transcende
não é o inimigo, é só rastilho, acende
esse estigma que te mina, é o paradigma
que fulmina a sina de tanta gente digna
liberta-te, quebra já o condicionamento
o que te limita é tão somente o pensamento