5 A Missiva

Escrevo versos soltos, livres como a alma.
Não meto totolotos, futuro aqui na palma
Da mão, calejada, de quem trabalha
Com dignidade, sem rabos de palha.
A fogueira queima, sou só uma acha.
É à minha maneira, ou vai ou racha!
Fui pobre, fui nobre em vidas passadas,
A sorte de quem fez longas caminhadas.
O spock deu o mote, eu soltei palavras
— Bravas—
Daquelas que libertam escravas.
Voz de esperança, mas sem falas mansas,
A apontar o dedo a esses enche-panças.
A injustiça faz de mim uma arma mortífera!
A árvore da vida nunca é infrutífera!
Em retrospectiva, sigo o que a escrita dita;
Esta é a minha missiva e ela é infinita.
É uma saudade eterna que jamais se vai,
Como a do pai que nunca conheceu seu pai.
Estou na minha praia, está cinzento-Porto.
Enquanto não volto a casa, busco reconforto
Em memórias vividas, de cores vívidas
(Algumas das quais deixam faces lívidas).
Esquece as piruetas das multi-silábicas,
Quero simplicidade de palavras sábias!
O astrolábio guia-me, mas sigo à deriva,
O vento sopra no lamento, dedo com saliva.
Fumo denso, reflexo do meu sentimento.
Velho, nada propenso ao arrependimento.
Urbanita desde sempre, selva de cimento,
Mas cuja alma habita o verdejante templo.
A digerir conhecimento, sou uma jibóia
E vou-me entretendo, é a minha paranóia
Pura curiosidade…