6 Pássaro Livre

Nunca é fácil soltar, deixar para trás
As imagens que ficam abalam a paz
Mas a vida de adulto implica bagagem;
No início os olhos só veem miragem:
Tudo rosa sem bandeiras vermelhas.
Anulas-te a ti, estendes passadeiras
Quando te apercebes, já não há fronteiras,
Afundaste nas movediças areias,
Lançaste teias, eu colei-me nelas.
De repente o quarto já não tem janelas.
Estou completo, não procuro alma gémea
Ou a imposição duma monogamia.
Já tive os anos de vida boémia
Até chegar o dia da epifania.
Eu estou primeiro e a minha harmonia,
Mais vale partir se não há sintonia.
Sempre sincero, cartas na mesa,
É o que é, eu nem jogo à defesa.
Foi bom, passou –nada arrependido.
Não vou pensar no que poderia ter sido.
Prefiro não ver, não saber o que fazes
Mas espero que estejas feliz e tu sabes
Porque eu sou assim, sou pássaro livre
A viver no agora até ao canto do cisne.

Passou, passou, façamos um brinde
Enquanto durou, foi crime sublime.
Foi bom, foi bom, mas sou pássaro livre
A viver no agora até ao canto do cisne.