20 Um Ponto De Luz

Um ponto de luz, um singelo ponto de luz,
(Vejo-o agora nitidamente na escuridão)
Após tantos caminhos construídos com palavras.
Uma imensidão desses trilhos percorridos…
Entranham-se em mim os estilhaços alojados na epiderme
—Absorvidas as lições das batalhas travadas—
Estou ao leme do barco da vida e lá ao fundo a saída.
Vivi esta odisseia até aqui
(Ainda assim a plenitude não me sacia).
São bombos, tarolas, pratos, amostras, excertos retalhados,
Infinitos interruptores da minha alma accionados, sinapses em êxtase!
Estamos perto, cada vez mais;
O abismo entre nós encolhe-se…
Essa montanha invertida contrai-se para que dêmos as mãos,
Quase juntos por fim.
A luminosidade reflectida nas paredes desta câmara,
Conta histórias das memórias que derramei no ritmo,
Arquitectado pelo maestro,
Quase a ressoar em ti o algoritmo dos pedaços de legado que palestro.
A esfera que me envolve aponta ao ponto
Que agora é um círculo que emoldura o que aí vem;
Do outro lado espera uma nova era
(Longe vai a severa treva da pesada atmosfera).
Atravesso o portal final para vislumbrar a Primavera…
De facto, este artefacto não é meu, é teu e de todos.
Novas estradas se desenrolam a cada passo,
Inéditas etapas por mim clamam e eu abraço.